Crónica do Investigador | O Antero Silva, é um investigador pós-doutorado na área da Toxicologia, com foco na Avaliação de Risco de químicos e misturas químicas. Como toxicologista no Instituto de Medicina Ambiental (IMM) na universidade Karolinska Institutet, em Estocolmo, Suécia, tem desenvolvido investigação de vanguarda utilizando modelos benchmark dose (BMD, sem tradução) para caracterizar os riscos para a saúde humana após exposição a químicos e suas misturas. Neste artigo, reflete sobre os desafios e avanços da modelação de risco, bem como sobre a importância da comunicação científica.
Este projeto é um exemplo de como a investigação científica pode não só aprofundar o nosso conhecimento sobre os riscos químicos, mas também contribuir para a criação de políticas públicas mais seguras.
O Poder da Modelação Benchmark Dose
A modelação BMD tem emergido como uma técnica robusta na toxicologia moderna. Ao contrário de outras abordagens mais convencionais, o BMD permite determinar um ponto de referência (em inglês, reference dose, RfD) onde uma dose ou concentração específica de uma substância começa a produzir um efeito adverso. Esta abordagem é particularmente útil na avaliação de misturas químicas complexas, como as que contêm substâncias como os PFAS, PCBs, ftalatos e bisfenóis — compostos que fazem parte do foco desta investigação.
Um dos grandes desafios na avaliação de misturas químicas reside na dificuldade em prever como diferentes substâncias interagem e quais os seus efeitos combinados. Por exemplo, qual a percentagem de alteração dos níveis da hormona T3, ou níveis de anticorpos contra a difteria, a partir dos quais os PFAS começam a impactar a saúde humana? Esta investigação tem-se centrado precisamente nisso: como determinar as interações entre compostos e quais os limites seguros de exposição para os seres humanos.
Comunicação Científica e Envolvimento Profissional
Para além do trabalho de investigação, há uma componente importante de comunicação científica, uma área crucial para a disseminação de conhecimento dentro e fora do meio académico. Recentemente, foi premiado com o prémio "People's Choice" da Sociedade Americana de Toxicologia, e tem sido moderador e palestrante em congressos internacionais na área de Toxicologia. Para além da comunicação com outros investigadores e público em geral, tem contribuído também para a formação de jovens que se iniciam em investigação.
O Futuro da Toxicologia e da Avaliação de Risco
O seu trabalho aponta para um futuro em que a toxicologia continuará a evoluir, incorporando novas ferramentas de modelação que permitirão uma avaliação de risco mais precisa e adaptada aos desafios do século XXI. O uso de modelação BMD, em particular, será essencial para o desenvolvimento de novos fármacos, ao permitir que se identifiquem efeitos adversos em doses muito baixas, bem como para a regulamentação de produtos químicos no ambiente e no mercado.
Este projeto é um exemplo de como a investigação científica pode não só aprofundar o nosso conhecimento sobre os riscos químicos, mas também contribuir para a criação de políticas públicas mais seguras. À medida que a ciência avança, também aumenta a responsabilidade dos toxicologistas em garantir que a comunicação dos riscos químicos seja clara e compreendida por decisores políticos, indústrias e pelo público em geral.
O Antero Silva está na linha da frente deste movimento, utilizando a sua experiência tanto no laboratório quanto na comunicação científica para garantir que a Toxicologia contribua para um mundo em que os químicos usados e comercializados sejam mais seguros.
Referências
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